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Projeto iconográfico da Matriz Santa Luzia

O artista sacro: Marcílio Soares (biografia no final)

A opção pela iconografia deu-se pela beleza do estilo que arrebata a alma contemplativa, levando à meditação por meio da riqueza de símbolos bíblicos e da espiritualidade cristã nas imagens das pessoas, objetos e paisagens.

Painel Mateus 25,1-13 - A Parábola das Dez Jovens

Tanto o celebrante durante o ofício litúrgico, quanto os fiéis que olharem para trás ou que estejam saindo da igreja, podem visualizar o grande painel, dividido em duas cenas. Nele vê-se, de um lado, as “cinco previdentes”, que levaram consigo óleo suficiente para esperar o Noivo que demorava a chegar. Símbolo daquela porção do Povo de Deus que não descuida de sua vida espiritual (óleo), tendo assim o suficiente até o retorno definitivo de Cristo. Perceba que a primeira personagem leva, além da lamparina acesa, um prato com dois olhos e a palma verde da vitória, símbolo dos mártires. É Santa Luzia, padroeira da Paróquia. Seu olhar encontra o de Cristo, lembrando que, assim como Luzia (luz), todos os cristãos são chamados a iluminar o mundo com a verdadeira luz, que é Cristo, Luz do mundo (Jo 8,12).

Atrás dela vêm as demais, que, como a primeira, é previdente. A auréola dourada, comum a todas, representa a santidade e lembra aquela multidão de santos e santas que trazem consigo suas lâmpadas acesas e que encontrarão o Senhor entrando, assim, para o Banquete eterno, as núpcias do Cordeiro.

O portão aberto representa, ao mesmo tempo, o Paraíso, que havia se fechado por causa do pecado de Adão e Eva, agora aberto. Lembra também o próprio Jesus, que se proclamou a “porta das ovelhas” (cf Jo 10,9). O Cristo que acolhe é o Noivo da parábola. É Ele o Senhor e Juiz da história que receberá os eleitos no Banquete eterno. 

Por fim, na continuação do painel, do lado direito, estão as “imprevidentes”, as que não levaram óleo suficiente até a chegada do Noivo. Atrás delas está o portão com as grades fechadas. Estão tristes, com os rostos e as lamparinas direcionados para baixo. Representam a tristeza dos que não cultivaram o amor a Cristo, esvaziando-se numa vida sem Deus. O fato de estarem voltadas para a rua lembra o mundo que rejeita o Sagrado e desdenha dos que buscam a Deus. O clima de tristeza em nada tem do brilho da primeira cena. Aqui, ressoa a dura frase da parábola que diz: “Em verdade vos digo: não vos conheço” (Mt 25,12).
 

Presbitério

O presbitério na Igreja, é o lugar por excelência do Sacrifício, do Banquete, da Palavra.

O altar desta igreja guarda a relíquia da santa que recebeu a missão de propagar a devoção à Medalha Milagrosa com imagem de Nossa Senhora das Graças: Santa Catarina Labouré. 

Ícones no presbitério

Ao centro, está o Cristo, na representação do Pantocrator (grego: Aquele que tudo rege). 

Imediatamente fui arrebatado em espírito ao céu e vi um trono, e nesse trono estava sentado um Ser...” (Ap 4,2)

Trata-se de uma representação bizantina que retrata o Senhor ao mesmo tempo, o Filho de Deus humanado e o Deus que reina e governa. Perceba que o rosto desse tipo de imagem mostra o Cristo sempre ao mesmo tempo severo e manso.

Aqui ele está entronizado (sentado num trono). Foi pintado ao centro, logo atrás do altar, lembrando que é Ele quem preside. 

Com a mão esquerda, segura o livro dos evangelhos (Evangeliário), aqui fechado para lembrar o que diz o Apocalipse sobre o Único, digno de abrir o livro lacrado (cf Ap 5,9). Por isso é assim, fechado, que este livro entra nas procissões de entrada e saída da Santa Missa e permanece assim sobre o altar durante a liturgia da Palavra, até o momento da Proclamação do Evangelho, quando, solenemente, é aberto para a leitura. Devolvido ao altar, fica ali até o início da liturgia eucarística. 

Já a mão direita do Cristo está a abençoar. No caso da figura de Cristo, além disso, o simbolismo dos gestos da mão ganha novos significados.

Na tradição ortodoxa, assim como na iconografia cristã primitiva, o gesto da mão abençoante é com frequência associado às letras IC XC, que abreviam o “Nome acima de todo nome”: Jesus (IHCOYC) Cristo (XPICTOC).

O gesto de bênção feito por Cristo tem ainda a finalidade de transmitir verdades doutrinais. Por exemplo, os três dedos que simbolizavam as letras I e X representavam a Santíssima Trindade, que é o mistério da Unidade de Deus em três Pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Ao se encostar o polegar e o dedo anelar, simbolizava-se a Encarnação, ou seja, a união das naturezas divina e humana na Pessoa de Cristo.

Ladeando o Cristo estão os Apóstolos. Aqui os Doze, já sem o traidor, que fora substituído por São Matias (cf At 1,15-26). 

Observando o teto do presbitério vemos a pomba, representação do Espírito Santo que, com seus raios alcança os Apóstolos. É o Espírito Consolador, aquele que revela toda Verdade, que ensina, infunde os dons e carismas necessários à missão da Igreja. É com a invocação do Espírito Santo sobre as oferendas postas sobre o altar que o sacerdote inicia o rito de consagração das oferendas quando diz: “Enviai o vosso Espírito Santo para que estas ofertas se mudem no Corpo e no Sangue...
 

Ainda, observe quatro desenhos que, na iconografia representa os quatro evangelistas.

Não há um consenso sobre o verdadeiro significado de cada um, mas a mais significativa é: 

O homem representa Mateus, pois seu Evangelho inicia com uma genealogia, recorrendo a esse recurso para mostrar a árvore genealógica de Jesus segundo a natureza humana, por meio das gerações desde Adão.

O leão representa Marcos, cujo Evangelho inicia no cenário do deserto, habitação desse animal. 

O touro representa Lucas, uma vez que o terceiro Evangelho tem a cena de São Zacarias oferecendo incenso no Templo de Jerusalém, lugar onde se ofereciam o touro em sacrifícios.

A águia representa João, pois o quarto Evangelho inicia com o prólogo, uma belíssima literatura que lembra o voo de uma águia. Começa no alto (falando do céu) e desce à terra, onde o Verbo se faz carne e vem habitar.

 

Na Bíblia, há outras referências a esses quatro animais: Ez 1,5-21 e Ap 4,6-9.

Cores

O dourado [ouro]

O homem, desde as suas origens, contempla com admiração a dourada luz do sol, presumindo que tivesse sua origem na divindade, pois na natureza não é possível encontrar esta cor. Nos ícones, todos os fundos estão cobertos desta cor, o que é possível conseguir aplicando folhas de ouro, que são polidas até conseguir seu brilho máximo.

O branco

O branco não é propriamente uma cor, mas a soma de todos elas. É a luz mesma. É a cor da "Nova Vida". No ícone da Ressurreição, a túnica de Cristo é desta cor. Os primeiros cristãos, ao serem batizados, vestiam-se com vestes brancas, como símbolo do seu novo nascimento para a nova vida transcendente.

O vermelho

Essa cor tem sido amplamente utilizada pelos iconógrafos nos mantos e túnicas de Cristo e dos mártires. Simboliza o sangue do sacrifício, bem como o amor, porque o amor é a causa principal do sacrifício. Ao contrário do branco. que simboliza o intangível, o vermelho é uma cor distintamente humana, representando, portanto, a plenitude da vida terrena.

O azul

Todas as culturas antigas associavam o azul à divindade. Os egípcios o associaram à "verdade" e, portanto, com seus deuses. Nos muros de suas tumbas e templos, pode-se observar pinturas de sacerdotes, cujas vestimentas são dessa cor. É natural que em bizâncio fosse estabelecida como a cor própria de Deus e das pessoas para as quais lhes transmite a sua santidade. Michel Quenot, em seu precioso livro "O Ícone", afirma: "O azul oferece uma transparência que se verifica no vazio da água, do ar ou do cristal. O olhar penetra aí e vai até o infinito, e chega a Deus".

O verde

É a cor resultante da combinação do azul e do amarelo. Verde é a cor da natureza, a cor da vida sobre a Terra, do renascimento para a chegada da primavera. A iconografia lhe dá um significado de renovação espiritual.

O marron ou café

Essa cor também é um resultado da mistura de várias outras, tais como o vermelho, o azul, o branco e o preto. É a cor da terra e, por isso, a iconografia aplica esta cor no rosto das imagens que aparecem nos ícones, para recordar que o homem "é pó e ao pó retornará". Significa também a "humildade", pois essa palavra vem do vocábulo latino "humus", que significa "terra". [...]

O artista

Nascido na cidade de São Miguel do Iguaçu, Paraná, aos 29 de novembro de 1965, Marcílio Soares traz na bagagem os dons e méritos de uma família habilidosa, o que simplificou a influência do artista em sua caminhada.

Formado em Artes, conta com mais de cento e trinta cursos de aperfeiçoamento no Brasil e exterior. Suas obras possuem um encantador acorde de linhas e cores, nos quais cada detalhe descrito tem um elemento complementar de vitalidade, emoção e os movimentos são leves, no entanto elaborados com sabedoria e experiência de anos de dedicação.
 

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